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terça-feira, 11 de outubro de 2011

Vozes.

Cena Urbana – Vicente Serejo 10/2011.

São profundas e confusas as vozes do Governo Rosalba Ciarlini. Ao longo dos dez meses, quase um ano, talvez pelo comodismo de não ficar exposta em demasia, a governadora acabou permitindo que muitas bocas falassem em seu nome. Mais em momento nenhum chegaram a formar um concerto a uma só voz, uníssono e harmonioso. Pelo contrário. O desarranjo retórico tomou conta da voz governamental e hoje começam a subir de volta as escadas da governadoria num cortejo de versões desencontradas.


O mais difícil na comunicação de um governo é definir sua própria voz. O timbre e a entonação do saber e do dissabor. As muitas vozes são naturais, e até indispensáveis a uma boa pluralidade de idéias, mas essa riqueza não poderá cair num pluralismo estéril e sem sentido. O profuso gera o confuso fazendo dos atos retóricos um alarido que não permite a tarefa de tornar comum o discernimento na eficiência da comunicação. Todos falam e por isso ninguém fala. Nenhuma voz é, assim, a sua marca.

É um discurso contraditório nas questões graves como prioridades, dificuldades financeiras e greves, desde o início com tiros raivosos, sob o pálio de um dístico revanchista – Reconstruir e avançar. Não nota que tenta vender a imagem de destruição e do atraso quando bastaria construir uma imagem de serenidade pactuada, sem gosto vingativo e sem julgar e condenar sumariamente o passado. Como se fosse possível sepultar com palavras uma memória forte e recente e só para o agrado do lado vitorioso.

Em comunicação, Senhor Redator, uma das tarefas ingratas é desfazer-se da vitima nascida das próprias mãos. De tão orgânica, parece contaminada da própria resistência de quem a criou, de tal forma que a morte anunciada passa a ser a nutrição que faz viver. E pior será se ao lado desta ressuscitação o novo governo desautorizar a sua própria palavra. Como é o caso da intolerância que impediu os laços de confiança do funcionalismo, impondo uma carga semântica negativa, feita de autoritarismo e atraso.

Duas contradições fortes fraturaram a retórica do governo: as greves, tratadas com intolerância e desprezo; e a não prioridade para saúde, educação e segurança como atestam a prática de até agora e o corte orçamentário que antecipa o como será o futuro.

É hora de o governo calar as muitas bocas que hoje falam em seu nome e alinhar suas idéias, verbalizando-as numa só direção. Sob pena de perder a noção de objetivo e de impor o erro perverso de encarnar o papel negativo da ameaça contra os fracos.

A primeira qualidade de um governante e a melhor forma de expressão de sua autoridade é a serenidade de ser um símbolo do bom futuro na construção do bem estar individual e coletivo. Insistir no medo, mesmo velado, é optar pelo marketing da assombração. Tanto mais quando se sabe – e a lição existencialista e de Jean Paul Sartre – que o homem está condenado a ser livre. Por isso as ditaduras caem, carcomidas e inúteis. Como as velhas muralhas da Bastilha sacudidas naquele Vive La France!


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