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domingo, 8 de julho de 2012

Endividamento sobe e atinge mercado.

Fonte: TN.


Andrielle Mendes - Repórter

As taxas de consumidores endividados, de consumidores com dívidas atrasadas, e de comprometimento da renda familiar em Natal atingiram o maior índice do ano em maio, de acordo com pesquisa recém divulgada pelo pelo Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), vinculado ao Banco do Nordeste (BNB), e pela Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Norte (FCDL/RN). Entre janeiro e maio, o percentual de consumidores que possuem dívidas vencidas e não pagas na data do vencimento avançou 2,2% em Natal. 

Alex RégisO cartão é o principal meio de pagamanto usado pelos endividadosO cartão é o principal meio de pagamanto usado pelos endividados

A capital potiguar seguiu na contramão do Nordeste, que registrou as menores taxas do ano em maio e apresentou redução de 18,6% no percentual de consumidores que possuem dívidas vencidas e não pagas na data do vencimento, entre janeiro e maio de 2012. 

Uma das razões para o avanço dos indicadores, analisa José Varela Donato, coordenador de Estudos e Pesquisas do BNB/Etene, é o crescimento da taxa de desemprego. A queda no número de turistas também contribuiu para agravar o quadro, ressalta Carlos Henrique de Almeida, economista da Serasa Experian. "O turismo caiu em Natal. Quem trabalhava em hotel e recebia hora extra, deixou de receber e passou a enfrentar dificuldades para saldar as dívidas", exemplifica. 

O avanço da taxa de endividamento  já atinge o comércio. "Quando o bolso aperta, todos os setores choram. Não tem um setor específico que sofra mais ou menos. A queda na liquidez se reflete no mercado como um todo", afirma Janduir Nóbrega, economista e professor do curso de Gestão Financeira da Universidade Potiguar (UNP).     

Nos supermercados, as vendas que deveriam subir entre 4% e 5% em junho, em relação ao mesmo período do ano passado, permaneceram estagnadas, segundo dados da Associação dos Supermercados no Rio Grande do Norte (Assurn). "Isso uma hora ia acontecer. O governo facilitou muito o acesso ao crédito. O pessoal parou de comprar para pagar as contas. Quando está endividado, o consumidor consome menos. Isso é fato", afirma Geraldo Paiva Júnior, empresário do ramo e presidente da Assurn. 

Pesquisa recém-divulgada pela Serasa Experian já havia revelado estabilização das vendas dos supermercados em 2011. A explicação é simples. "Com o crescimento dos níveis de endividamento e de inadimplência, a demanda se retrai, porque uma proporção maior de consumidores perde sua capacidade de compra", afirma José Varela.

A taxa de inadimplência bateu recorde em maio no país, considerando pagamentos em atraso há mais de 90 dias, alcançando 6%, segundo nota de crédito divulgada pelo Banco Central  no mês passado. Este foi o maior percentual da série histórica, com início em junho de 2000, segundo reportagem publicada no Valor Econômico. No segmento de pessoas físicas, a taxa de atrasos chegou a 8%. 

No Brasil, quase metade dos consumidores brasileiros (48,5%) possui dívidas que comprometem entre 11% e 50% de sua renda, segundo Sondagem de Expectativas do Consumidor, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgada na última sexta-feira. A pesquisa mostra que, em relação a dívidas com atraso superior a 30 dias, 9% dos informantes estão inadimplentes. Entre os consumidores que ganham até R$ 2.100, esse porcentual sobe para 19,1%. 

Para Marcelo Queiroz, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do RN (Fecomércio/RN), as pessoas não estão fazendo as contas direito. 

Descontrole no orçamento traz riscos

O comportamento da professora Iara Concentino e da comerciária Osana Maria Silva de Macedo ajuda a compreender como o endividamento do consumidor afeta a economia. As duas passaram por um aperto - em função das dívidas no cartão de crédito - há alguns anos e precisaram apertar o cinto. Para sair do vermelho, elas reduziram as saídas, cortaram viagens, eliminaram os supérfluos da lista de compras. 

Osana aposentou os cinco cartões de crédito e passou dois anos sem contrair novas dívidas. Iara fez o mesmo até controlar o orçamento.  "Me privei de muita coisa para quitar as dívidas dos cartões de crédito", afirma a professora. O esforço valeu a pena. "Agora com o orçamento controlado, sobra dinheiro para comprar à vista", diz Iara, que voltou a incluir supérfluos no carrinho de compras desde que voltou para o azul. 

DESEQUILÍBRIO

Desequilíbrio financeiro é o motivo apontado por seis em cada dez consumidores entrevistados em Natal (62,3%) para atrasarem o pagamento das dívidas. Deste total, 43,3% revelaram que não fizeram orçamento e controle dos rendimentos e gastos ou fizeram de modo ineficaz.

Para Janduir Nóbrega, economista e professor do curso de Gestão Financeira da Universidade Potiguar (UNP), este é o grande problema. "O ideal é considerar o salário líquido - salário bruto (demonstrado em carteira) menos os descontos oficiais (INSS, IRRF, Vale transporte, Vale refeição, entre outros) -  antes de contrair alguma dívida. Mas as pessoas não fazem este exercício e gastam mais do que ganham", afirma. Para Carlos Henrique de Almeida, economista da Serasa Experian, falta educação financeira. "O brasileiro faz dividas caras de longo prazo e não consegue pagar". 

O endividamento exagerado não reduz apenas a capacidade de compra de consumidores como Osana e Iara. Ele emperra o crescimento da economia, explica Janduir Nóbrega, economista e professor da Universidade Potiguar (UNP). "Com o crescimento dos níveis de endividamento e de inadimplência, a demanda se retrai, porque uma proporção maior de consumidores perde sua capacidade de compra. No final, a produção reduz suas atividades e a oferta, podendo repercutir sobre o emprego", acrescenta José Varela, do Etene-BNB.

Cartilha mostra como manter as contas "no azul"

Para alertar os consumidores sobre os riscos e efeitos do endividamento exagerado, a Proteste (Associação dos Consumidores) elaborou uma cartilha - disponível no site www.proteste.org.br - que traz uma série de dicas para quem quer sair do vermelho ou se manter no azul. 

Pagar à vista, com desconto; controlar o cartão de crédito; substituir empréstimos por outros com juros menores e não usar o limite do cheque especial são algumas das  recomendações.

CUSTO 

Outra dica, segundo a associação de consumidores, é saber qual o Custo Efetivo Total (CET) do crédito - informação prévia da taxa anual de despesas e encargos das operações, que inclui juros, tarifas, seguros e outras despesas. 

A Proteste também aconselha a não comprometer mais de 30% da renda líquida - dinheiro que sobra após o pagamento das contas mensais. 

Para Carlos Henrique de Almeida, da Serasa Experian, comprometer 30% da renda apenas com dívidas já é muito. "O ideal é que fique bem abaixo deste percentual".

Dicas para evitar o endividamento exagerado

O que diz a cartilha da Proteste, de acordo com o perfil do endividado.

Pessoas com até 25% da renda comprometida (economize nos detalhes)

- Só compre quando tiver dinheiro;

- Pague à vista, com desconto;

- Controle o cartão de crédito;

- Não esqueça luzes acesas;

- Passe as roupas de uma só vez;

- Reduza os gastos com lazer;

- Coma em casa;

- Pesquise antes de comprar;

- Seja fiel à lista do supermercado.

Pessoas com até 50% da renda comprometida (mude seu estilo de vida)

- Use a poupança para abater dívidas;

- Substitua empréstimos por outroscom juros menores;

- Evite andar de carro;

- Controle os telefonemas;

- Lave as roupas em casa.

Pessoas com 100% ou mais da renda comprometida (faça cortes drásticos)

- Renegocie suas dívidas;

- Aposente o cartão de crédito;

- Mude para um imóvel mais em conta;

- Venda o carro para quitar as dívidas mais pesadas;

- Coloque as crianças em uma escola mais barata;

- Suspenda os cursos extras;

- Não use o limite do cheque especial.

'Com o endividamento em alta, o crédito fica mais difícil'

Pesquisa recém-divulgada pelo BNB/FCDL mostra que as taxas de consumidores endividados, de consumidores com dívidas em atraso e de comprometimento da renda familiar atingiram o maior nível do ano em maio, na capital potiguar. O doutor em Administração de Empresas - EAESP/FGV - e coordenador de Estudos e Pesquisas do BNB/Etene, José Varela Donato, explica os motivos e as consequências disso.

Porque maio registrou as maiores taxas? O que estaria por trás disso?

Uma das razões para o aumento dos indicadores é o crescimento da taxa de desemprego. É claro que os estímulos para aquecer a economia, notadamente o setor industrial, como redução das taxas de juros, redução de IPI também induzem os consumidores às compras, principalmente a prazo. 

Como o endividamento e a inadimplência impactam na economia?

Com o crescimento dos níveis de endividamento e de inadimplência, a demanda se retrai, porque uma proporção maior de consumidores perde sua capacidade de compra. Por outro lado, os comerciantes e agentes financeiros se tornam mais receosos e seletivos na concessão de crédito aos consumidores, porque cresce o risco de não pagamento. No final, a produção reduz suas atividades e a oferta, podendo repercutir sobre o emprego. 

Quais os setores mais afetados?

Sem considerar medidas adotadas para minimizar os efeitos na economia, como a queda da produção industrial, os setores mais afetados com o aumento dos índices de endividamento e inadimplência são o comércio varejista, que vende para os consumidores finais, e aqueles setores mais relacionados com produtos e serviços cujas compras podem ser adiadas, como produtos não essenciais, produtos duráveis, como carro, televisores, roupas, produtos de luxo e outros mais caros e sofisticados.

Nosso Estado encontra-se numa situação diferente da situação dos demais? Há números que comprovem isso?

A pesquisa do BNB/FCDL foi realizada em maio somente em seis capitais do Nordeste: Fortaleza, Maceió, Natal, Salvador  Teresina e João Pessoa. Os resultados da pesquisa de maio revelaram diferenças entre as capitais pesquisadas quanto ao perfil de endividamento dos consumidores. Mas de uma forma geral, o endividamento dos consumidores cresceu em todo o país, como revelaram outras pesquisas, como a da Serasa Experian.

Que outros dados o senhor destacaria?

A pesquisa explicita as múltiplas causas que conduzem as pessoas ao desequilíbrio financeiro. Mostra-se, em primeiro lugar, a importância da educação financeira e de atitudes previdentes para os consumidores. Em segundo lugar, as causas mais profundas que não se resolvem nem mesmo com o aumento da renda, mas com mudança de estilo de vida.

O governo federal tem tentado estimular o consumo das famílias. Essa não seria uma estratégia arriscada, levando em consideração que as taxas de endividamento e inadimplência estão altas?

O estímulo ao consumo se faz necessário no momento, porque o comércio é um setor importante da economia na geração de emprego e renda. E o comércio tem respondido bem. Logicamente, um comércio aquecido puxa o desempenho de outros setores. É claro que, do ponto de vista das finanças do consumidor, o estímulo ao consumo pode ocasionar mais endividamento e inadimplência, o que não é bom. Mas espera-se que os consumidores em geral também acabem percebendo suas dificuldades de quitar suas dívidas e exerçam maior controle dos seus rendimentos e, principalmente, dos gastos, minimizando os riscos de endividamento exagerado. Os empresários e agentes financeiros, é claro, também se acautelam na concessão do crédito. 

Estimular o consumo bastaria?

Além do comércio, sem dúvida é importante incentivar o investimento também.

Analistas defendem mudança de foco

O governo federal tem anunciado medidas de estímulo ao crédito e ao consumo, para reaquecer a economia, mas a estratégia traz riscos, alertam os especialistas.

"O Brasil precisa encontrar outra forma de incentivar o crescimento", disse à TRIBUNA DO NORTE Nuno Fouto, coordenador de Pesquisas do Programa de Administração do Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração (FIA). "Incentivar o consumo é importante, mas não é suficiente", diz. 

Altos níveis de inadimplência, endividamento das famílias e recuo da intenção de compra  dão mostras de que o potencial do consumo no Brasil estaria chegando à exaustão, segundo o presidente do Conselho do Provar, Claudio Felisoni, em entrevista à Agência Estado, na última quarta (4). 

O cenário desfavorável  levou a FIA a projetar um crescimento de 5,4% nas vendas reais do varejo em 2012, ante um aumento de 19,4% verificado em 2011, na comparação com o ano anterior. O futuro não parece muito animador. A queda da taxa de inadimplência do consumidor, esperada por analistas para o segundo semestre, só ocorrerá a partir de 2013, de acordo com pesquisa da Fundação. Segundo Claudio Felisoni, as taxas continuarão subindo até lá. Conforme estimativa da FIA, a inadimplência ficará em 8,1% em julho, 8,2% em agosto, 8,3% em setembro e outubro, 8,5% em novembro e 8,6% em dezembro.   

Para Nuno Fouto, o problema não é o consumo, mas a produção, "que não tem conseguido acompanhar a oferta, abrindo caminho para a importação". Segundo ele, seria preciso estimular a oferta de bens manufaturados, desonerando a produção (para reduzir o Custo Brasil) e investindo em infraestrutura, combinando ações de curto, médio e longo prazo. 

"O problema é que o caminho usado para manter o crescimento tem sido o do consumo", afirma o economista Janduir Nóbrega, membro do Conselho Regional de Economia do RN e diretor do curso de Gestão Financeira da Universidade Potiguar (UNP). 

"Cerca de 60% do PIB do Brasil provém do consumo das famílias", completa Carlos Henrique de Almeida,  economista da Serasa Experian. Na China, que consegue fazer amplos investimentos e viu as exportações subirem 1.700% desde 1992, percentual fica em torno de 35%. Carlos relembra que o governo federal está flexibilizando o câmbio para estimular a exportação, mas que os efeitos serão limitados. "Europa e  China, grandes consumidores de produtos brasileiros, estão desacelerando". 

Nuno, Janduir e Carlos concordam num ponto: o país precisa se tornar menos dependente do consumo. É preciso investir mais, dizem. "Investimento gera emprego e renda", ressalta Janduir. E renda gera consumo.

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